segunda-feira, 26 de julho de 2010

UM DIA FORA DO TEMPO


Com esta postagem, estou participando da blogagem coletiva do Blog da Orvalho do Céu, cujo tema é AfetividadexEspiritualidade.
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UM DIA FORA DO TEMPO

Meus assíduos leitores, para os que pensaram que me esqueci da postagem da semana, trago-vos a minha justificativa. Acontece que o dia de ontem, no calendário do povo maia, era considerado um dia fora do tempo, pois o ano deles sempre terminava no dia 24 e tinha início no dia 26 de julho.

Considerando-se o teor ecumênico e universal que pauta a temática das minhas postagens, decidi dar uma demonstração de respeito a um povo cósmico de tamanha influência para a evolução dos sistemas planetários, como são os maias.

Se ontem o tempo parou, faço hoje a minha postagem sobre a relação da afetividade com a espiritualidade, sem que me sinta faltoso ou ausente. Se para os maias o novo ano começava no dia de hoje, não me custa aproveitar a deixa para falar de afeto, no primeiro dia deste novo ano.

Ser afetuoso é colocar sentimentos e emoções em nossas relações com parentes e amigos. O afeto é sutil, amoroso e suave. Ser afetuoso é uma dádiva amorosa que muitos não conseguem ser, quando demonstram as suas afinidades com os outros, e até com a pessoa amada.

Até o nosso hino à bandeira clama a todos os brasileiros que recebam “o afeto que se encerra” nos peitos juvenis, dos jovens que amam o símbolo da pátria – a bandeira. O afeto é mencionado como uma expressão pura e sincera dos que pensam, sentem e agem como jovens.

Ah, meus exigentes leitores, talvez muitos, ou pelo menos alguns, já estejam dando pulos na cadeira, por discordar daquilo que imaginam ser minha intenção, de atribuir espiritualidade a quem se comporta com afetividade! Ledo engano, precipitados amigos.

Eu não poderia deixar de relacionar a espiritualidade com a afetividade, por entender que o afeto sincero e puro é uma atitude que favorece a evolução espiritual de uma alma. Mas, não posso também deixar de reconhecer que a afetividade não é uma garantia de estarmos diante de uma alma espiritualizada.

O afeto é uma expressão sentimental e emocional, a espiritualidade é uma expansão da consciência psíquica. O afeto aproxima as almas, umas das outras, mas não as aproxima do Espírito, ainda que favoreça a aproximação.

O meu mestre físico, que vez por outra menciono por aqui, costumava dizer que preferia o frio ou o quente ao morno. Com isso, ele queria dizer que é melhor lidar com os bons ou os maus do que com os bonzinhos.

Os bonzinhos estão entre aqueles que são capazes de serem muito afetuosos e gentis, mas não possuem a convicção de amar com desapegos e despojamento. A afetividade se faz muito presente nas relações de amizade, quando atitudes diplomáticas e passageiras funcionam de modo bastante eficiente como um catalisador de emoções.

A afetividade, porém, não possui a mesma eficiência, quando se trata do processo de evolução da alma. Se eu consigo com a minha afetividade levar adiante uma relação complicada, o mesmo eu não poderei fazer, quando me conflito com os princípios divinos.

Ser afetuoso é insuficiente para a Divindade. Dar afeto ao próximo não é o mesmo que amar o próximo. Afetividade não é um sinônimo do ato de amar.

Eu sei meu atento leitor que a palavra amor vulgarizou-se com o passar do tempo, desde a Criação! Mas, a Divindade dispõe de um vocabulário que não inclui modismos, nem interpretações convenientes. Amar é amar, e não ficar. Quem só fica não ama, ainda que quem ame, fique.

Acho melhor dar um fecho a esta minha prosa sobre o afeto que se encerra no peito da nossa humanidade juvenil, afirmando que muito melhor o afeto e a mansidão nos relacionamentos, do que invejas, egoísmos e rompimentos. Nem pretendia estar defendendo o contrário.

Aceitemos pacientes leitores que, depois da generosa afetividade que nos é dispensada por aquela recente amizade, venhamos a ser capazes de conquistar com o passar do tempo um legítimo e profundo amor. Com essa conquista, estaremos solidificando nossas amizades, enquanto ajudamos os amigos a evoluir espiritualmente.

Aproveitemos a energia dos maias, nesse primeiro dia do seu calendário, e comecemos essa transmutação de sentimentos afetivos em espiritualizados. Isso aperfeiçoa a nossa sensibilidade amorosa e expande a nossa consciência espiritual.

Coloco-vos a meditar meus afetuosos leitores, enquanto a consciência amorosa de cada um vai interagindo com os mais profundos e nobres ideais da alma, até a grande transformação de um simples afeto num grande e infinito amor.

Um feliz ano novo maia!

domingo, 18 de julho de 2010

A VENDA DA FÉ


Com esta postagem, estou participando da blogagem coletiva do Blog da Orvalho do Céu, cujo tema é MarketingxEspiritualidade.
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MARKETING RELIGIOSO – A VENDA DA FÉ

Meus fiéis leitores, eu tomei para mim uma espinhosa empreitada, de analisar as técnicas de marketing envolvendo a espiritualidade. Confesso-vos que melhor seria pôr-me a falar sobre a comercialização de produtos e serviços, deixando a espiritualidade a salvo dos truques comerciais. Mas, a religião e a fé têm recebido uma roupagem de tal forma modernizada como produtos de consumo, que decidi ousar penetrar nessa área de comércio.

Começo dando ao marketing a sua definição mais bem aceita na área dos negócios – a comercialização. Os especialistas não consideram o marketing como o simples ato de fazer comércio ou, como muitos acreditam ser, a técnica de vender um produto. Na visão desses estudiosos dos negócios, fazer comércio é vender e a técnica para vender é a propaganda. Mas, o marketing é muito mais, começando bem antes da criação do produto e se perpetuando depois dele ser vendido, para que se mantenha a sua imagem de qualidade.

A realidade que esses especialistas de marketing se negam a aceitar é que há um resíduo antiético que não pode ser eliminado e que se faz presente nas atividades do marketing. Estou referindo-me ao fato de que se aplica o marketing para se promover qualquer produto, o bom e o mau, o útil e o inútil, o sadio ou o maléfico.

As empresas de marketing são contratadas para vender um produto ou um serviço, e poucas se dão ao trabalho de avaliar os efeitos provocados pelo seu consumo, ainda mais se a verba envolvida no negócio é considerada irrecusável. E isso também vale para um aparentemente ingênuo marketing que vem sendo utilizado no mundo espiritual.

A tendência humana de querer convencer a todo mundo que aquilo em que se crê é o melhor tem sido a razão principal do aperfeiçoamento das técnicas de marketing para a venda do produto fé, ou embalado com mais sofisticação e vendido como religião.

A história nos fala das ações dos padres jesuítas na catequese dos índios. Conta essa mesma história, a respeito das práticas de nações guerreiras que, depois de invadirem terras e dominarem seus povos, impunham às regiões conquistadas suas crenças à força, destruindo templos e profanando locais sagrados. Uns eram mais sutis, outros mais violentos, mas a intenção não era outra senão impor novas crenças a quem já possuía as suas.

O mundo tornou essas práticas mais civilizadas, mas não menos cruéis, e o marketing tem tomado o lugar da espada e do fuzil, no processo de interferir nas crenças alheias, vendendo a fé e a religião como produtos de consumo. As armas mudaram, porém a crueldade é a mesma, mesmo disfarçada por imagens e palavras, por intimidações e promessas e por farsas e mentiras.

O marketing engana, pois ele não tem o comprometimento com a ética ou com a verdade. Essa minha afirmativa é polêmica, eu reconheço, mas é autêntica. O marketing se propõe a vender a imagem de um produto ou de um serviço, e para tanto a campanha publicitária fará de tudo para que o seu consumo aumente, mesmo que a peça publicitária induza ao vício, à ingestão equivocada de alimentos ou a atitudes ambientais inadequadas. Aumentando o consumo, o marketing obteve sucesso.

As igrejas concorrem entre si de uma forma ridícula e desprovida de bom senso, na tentativa de comprovar que suas mensagens são as mais verdadeiras ou mais eficazes, e só elas poderão levar o fiel ao reino do céu. E com esse fim, as mais absurdas afirmações são ouvidas e muitas atitudes condenáveis são observadas, por parte dos líderes religiosos e de seus seguidores.

Os canais de televisão e as ondas radiofônicas estão ocupados por religiões que disputam a fé dos crentes, como se somente uma ou outra salvasse a alma daqueles pobres pecadores. A mídia é cara e exige elevados recursos financeiros para cobrir a demanda do marketing religioso. E quem paga a conta é o pobre coitado que se julgando perdido, sacrifica o pouco que tem, para se salvar.

O marketing faz apenas a sua parte, sem tomar partido desta ou daquela crença, cria programas atrativos, elabora campanhas anuais e induz as frágeis almas a seguirem por este ou aquele caminho. O marketing não discute a essência da mensagem, mas é apenas responsável pela superficialidade do engodo. Quem cair na teia, por ingenuidade ou fraqueza, terá feito a sua opção de fé.

O mesmo acontece com uma campanha para o lançamento de um novo produto, não há muita diferença. Aliás, para os criadores das agências, não há diferença alguma, desde que a campanha resulte no sucesso das vendas. Se a religião salva ou condena não importa, desde que os templos passem a atrair mais fiéis e que as gordas verbas publicitárias possam ser arrecadadas e pagas nas datas de vencimento.

O marketing é um indutor de crenças, um criador de necessidades e um provocador de ações. Se usadas para o bem essas técnicas seriam ferramentas perfeitas para despertar o verdadeiro sentido da fé e das atitudes religiosas. Mas, não é a busca da fé que inspira o marketing religioso, mas a catequese dos que possuem outras crenças, ainda que eles tenham fé naquilo que crêem.

O marketing provoca o aumento do consumo, e quanto mais crescerem as vendas, maiores serão os lucros das empresas fabricantes e dos empresários do marketing. No marketing religioso não há muita diferença dessa realidade comercial, pois a fé é tratada como produto e os templos como prestadores de serviços. Se a igreja receber mais fiéis, ainda que escândalos comprometam a idoneidade dos seus ministros, a igreja estará crescendo e tendo sucesso.

Os fiéis ligam o rádio e a TV acreditando que a sua religião, e somente a sua, poderá curá-los de suas doenças ou misérias. As religiões utilizam o marketing para denegrirem a imagem das concorrentes, como se somente algumas determinadas igrejas detivessem o direito e o poder de ensinar em nome de Deus.

O produto dessas instituições é Deus, que é vendido como solução de todos os problemas. É bem verdade que por ser a figura do Pai mais difícil de ser utilizada pelo marketing do que a do Filho, as religiões preferem apegar-se ao Filho para promover os seus produtos de fé. O Filho tem um apelo mais popular, e as igrejas se apegam a seus poderes crísticos para promover as suas curas e seus milagres com muito maior facilidade.

Agora, pensando bem, meus fiéis e espiritualizados leitores, será que Deus, Jesus e outros tantos Mestres que deixaram suas doutrinas espalhadas pelo mundo precisam de marketing? As igrejas com seus padres, pastores, rabinos e outros tantos e muitos líderes precisariam entrar em concorrência para vender seus produtos de fé? Os templos não deveriam ser os locais sagrados onde se celebrariam a harmonia e a paz entre os fiéis?

Quando me ponho a pensar nessas tantas e tão diversificadas crenças e religiões, não posso entendê-las senão como apenas a necessidade de uma linguagem espiritual diferenciada, necessária pela diversidade de hábitos e costumes dos povos. Como aceitar as guerras religiosas ou guerras santas? Como admitir que uma religião tenha a pretensão de ser melhor do que a outra, e que tente catequizar para a sua fé os seguidores da outra?

Diante de tanta incoerência, lembro-me da indignação de Paulo, quando uns diziam ser seus seguidores e outros de Pedro. Paulo perguntava se Deus estaria dividido, se o Cristo poderia ser repartido entre os que pregavam a sua doutrina.

A sorte de Paulo é que ele podia lidar com esses conflitos falando de boca a ouvido, em cada cidade que visitava, sem a interferência da mídia, sem o marketing dos romanos ou dos sacerdotes judeus.

O mundo está caminhando para uma inexorável divisão – de um lado, os que crêem na sua fé interior, e do outro, os que buscam de templos em templos os milagres das religiões. E sob esse aspecto, o marketing presta um enorme desserviço à espiritualidade da criatura humana, por maquiar as verdades e entregar ao consumo as falsas mensagens de salvação.

Deixo-vos esta mensagem final, meus pacientes leitores, de que o marketing não é um bom conselheiro, para as nossas febres de consumo. Ele nos induz aos erros, ele nos vende gato por lebre e se regozija da nossa ingenuidade. E quando isso atinge o campo espiritual, os efeitos são danosos à alma e podem custar algumas reencarnações sofridas, antes de se retomar o progresso espiritual.

domingo, 11 de julho de 2010

COMPAIXÃO OU COM PAIXÃO?




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COMPAIXÃO OU COM PAIXÃO?

Meus compassivos leitores, para falar-vos de compaixão, conto-vos uma história, relatada a mim por meu mestre físico, durante o meu processo de Iniciação.

Caminhavam por uma rua deserta, um mestre e seu discípulo. O mestre ouvia calado, enquanto o discípulo falava. O mestre apenas balançava a cabeça para concordar ou discordar de algumas questões e afirmações vindas do discípulo.

O jovem discípulo sentia-se empolgado com o seu processo de expansão espiritual, e descrevia com entusiasmo cada etapa da abertura do seu nível de consciência. O mestre balançava a cabeça e ouvia, sem que se percebesse se ele concordava com o discípulo ou simplesmente mexia com a cabeça no seu movimento de caminhar.

O discípulo descrevia o seu atual estágio de amor e compaixão, no qual sentia muita vontade de ajudar as pessoas a enxergar a presença divina na criatura humana. Ele falava dos seus erros e arrependimentos, e assumia culpas e compromissos de jamais repetir os mesmos erros.

De repente, eles avistaram uma mulher na sarjeta, com uma garrafa de vinho na mão, num profundo estado de embriaguez. O discípulo voltou-se para o mestre e exclamou:

- Mestre, pobre mulher, olha a que ponto pode chegar o ser humano!

O mestre continuou calado, e seguiu em frente, após olhar nos olhos da pobre mulher.

O discípulo insistiu:

- O que pode levar uma mulher a esse estado de abandono espiritual, se deixando levar pelo vício?

O mestre nada respondeu.

O discípulo demonstrando compaixão pela pobre mulher, afirmou:

- Mestre, quem somos nós para julgar! Afinal de contas, tive uma educação exemplar, os meus pais me encaminharam para o mosteiro e as práticas espirituais me fizeram consciente de certas verdades que me tornaram um monge generoso e compassivo. Hoje, sinto-me protegido pela graça divina, e tenho compaixão pelos que se entregam aos vícios e vivem no pecado.

O mestre voltou-se para o discípulo e mansamente recitou, enfim, algumas palavras. Disse o mestre:

- Esta mulher, que julgas tão inferior a ti, é um espírito nobre e muito evoluído, cuja única mancha que traz de suas outras vidas é o vício pela bebida. Esta vida será a sua última encarnação, quando ela terá de pagar os seus derradeiros karmas, após o que irá para um plano mais elevado de serviço à humanidade.

O discípulo calou e o mestre selou a sua fala com um conselho:

- Quanto a ti, pobre e ingênuo rapaz, tu terás de voltar ainda por muitas vezes a este mundo até que venhas a resgatar todos os teus karmas e possas chegar aos pés dessa alma de quem disseste sentir tamanha compaixão.

O discípulo abaixou a cabeça e sentindo-se envergonhado, compadeceu-se de si.

No fim daquela jornada, o discípulo havia aprendido que a compaixão não pode ser filha da vaidade, pois para que se compadeça de alguém é necessário, antes de tudo, assumir com humildade a nossa triste condição humana de pretensiosos donos da verdade.

Quantos de nós, meus atentos leitores, seríamos capazes de reconhecer a nossa absoluta incompetência para julgar os erros alheios? Se não temos condições para julgar os nossos próprios enganos, como podemos arvorar-nos de juízes da humanidade?

Quem de vós condenaria o vaidoso discípulo? Eu já nem questiono sobre a pobre mulher, maltrapilha e maltratada pela vida, pois a essa ninguém pouparia.

E por que, meus surpresos leitores, eu prefiro falar da nossa incompetência para perdoar e sentir compaixão pelos que cometem erros, e não ficar a rasgar sedas pelos que afagam os culpados com uma das mãos e os castigam com a outra?

Prefiro a cruel sinceridade, a uma falsa compaixão. Mas, será que ninguém sente verdadeiramente compaixão pelos outros?

Longe de mim, provocador leitor, pôr-me a julgar a humanidade inteira. Mas, as palavras são mais fáceis de pronunciar, do que as ações de se praticar.

Por essa minha vida afora, tenho ouvido falar muito de compaixão, mas a prática tem sido uma decepção. Compadece-se de um pobre coitado, de um fraco, de um mentiroso e de tantos e tantos que são sempre apresentados com falhas e defeitos. E quem os estigmatiza dessas formas não se julga possuidor dos mesmos e tantos erros.

Somos o pretensioso discípulo caminhando ao lado do mestre. Desprovidos da sabedoria do mestre, enunciamos as nossas verdades, com a ignorância de quem não é capaz de se compadecer nem mesmo de si.

A humanidade vive um momento de profundas mudanças e indescritíveis sofrimentos. As pessoas se apegam a mentiras e fantasias em busca de consolo. As religiões já não respondem e nem correspondem aos medos dos seus fiéis, porque tanto quanto eles, elas não sabem expressar Deus.

Diante desse caos universal, a humanidade busca consolo em vícios e violências, como fugas da triste realidade de cada um. A compaixão com o drogado é logo seguida de um desejo imenso de que os traficantes sejam liquidados pela polícia. A compaixão pelos bandidos que por falta de boa educação e de trabalho assaltam e matam vem acompanhada de um desejo enorme de que se aprove logo a pena de morte.

Compaixão não é sentir pena, mas estender a mão. Compaixão não é passar a mão na cabeça do criminoso, mas oferecer-lhe oportunidade de reconhecer seus erros e mudar de vida. Compaixão não é se trancar num templo e orar pelos que sofrem, mas participar dos sofrimentos alheios sentindo-os como estigmas no próprio corpo. Compaixão é amar, sem julgar, é perdoar, sem condenar.

Digo-vos, generosos leitores, a compaixão não está ao alcance dos discípulos, mas somente dos mestres. A compaixão que se conhece não passa de um desencargo de consciência, uma espécie de ida ao confessionário, para se sentir mais leve, e poder pecar de novo.

Lia-se no pórtico do Templo de Delfos, na Antiga Grécia, “conhece-te a ti mesmo”. Os grandes mestres gregos diziam que somente aquele que se conhecesse poderia conhecer as verdades sobre os deuses e o universo.

Pobres de nós, bem intencionados leitores, que mal conhecemos os nossos mais habituais e simplórios enganos, e que pretendemos conhecer as verdades divinas e com base nelas condenar os nossos irmãos, ou, por uma questão de condescendência, sentirmos por eles, uma imensa e ilimitada compaixão.

Sem dúvida, estamos muito mais para os que sentem “com paixão” do que compaixão. Mas, se aprendermos com o silêncio do mestre, nós não seremos apanhados pela loquacidade do discípulo.

Acostumemos a caminhar ao lado do mestre, calados, mesmo que queiramos demonstrar compaixão. Compaixão sente-se, não exige palavras.


quarta-feira, 7 de julho de 2010

TEIA AMBIENTAL - MINERAÇÃO


Teia Ambiental
Rede de Conspiradores Preservacionistas

OURO DE TOLO

Meus queridos leitores ecologistas, o deus da humanidade, aquele no qual todos os seguidores de todas as religiões verdadeiramente acreditam é o OURO. Entendam por ouro tudo que gera riqueza material e a sua imagem mais conhecida por todos nós - O DINHEIRO.

O ouro tem suas origens com o surgimento da humanidade, quando era associado a divindades e ao poder temporal dos deuses na Terra. Os deuses se vestiam de dourado, os templos eram revestidos de ouro e as peças sagradas eram produzidas a partir desse nobre metal.

Durante muito tempo, as riquezas de uma nação eram medidas pelo lastro em ouro de sua moeda, aquilo que ela possuía nos cofres do Tesouro Público, e cuja moeda circulante era uma simples representação da quantidade do ouro existente nas reservas em barras depositadas naqueles cofres.

Com o passar do tempo, outras espécies de ouro foram surgindo, à medida que se aguçava a cobiça da criatura humana em produzir novas formas de riqueza e poder. O carvão e mais tarde o petróleo são os exemplos mais aparentes desses ouros negros, surgidos como fontes de energia, em épocas distintas.

A expansão da civilização e a política gananciosa do progresso a qualquer custo promoveram a exploração dos recursos naturais elevando a produção dessas fontes de energia a níveis alarmantes. Os progressistas alegarão que essa exploração abusiva dos recursos naturais é uma ação indispensável à sobrevivência da humanidade ou à melhoria da sua qualidade de vida.

No meio dessa discussão entre os ditos progressistas e os ambientalistas surgem verdades que fogem à lógica do progresso, por gerarem custos crescentes de recuperação de áreas degradadas pela expansiva prática da mineração em todas as suas formas de prospecção de minérios. Nisso incluem-se não somente as extrações em terra como nos rios, lagos e mares.

A conseqüência mais visível de tudo isso é a poluição e os acidentes nas áreas de mineração, ficando perceptível a lenta, porém inexorável, degradação ambiental dos rios e florestas, levando-os a extinções danosas à vida planetária.

A justificativa dos exploradores é que não é possível evitar-se todos os malefícios da mineração, e que existem males que vêm para bem, e a exploração das riquezas da natureza é um desses males.

A possibilidade da obtenção dessas riquezas sempre seduziu e transtornou a rotina pacífica de inúmeras civilizações. A corrida do ouro deixou muito sangue nas trilhas da colonização norte-americana. A busca dos diamantes e pedras preciosas exterminou muitas tribos de índios no Brasil. As minas subterrâneas de carvão na Inglaterra acabaram com a saúde dos pobres mineiros a serviço dos poderosos. E tudo isso acompanhado de destruições de locais sagrados, narradas pela história da humanidade, quando se fala das guerras e de invasões de territórios em busca de riquezas.

Os homens, na sua cegueira espiritual, nunca souberam valorizar os verdadeiros tesouros espalhados na Terra, que se aproveitados de forma correta fariam a todos sadios, ricos e felizes.

Florestas inteiras foram dizimadas para o corte da lenha que produziria energia ou alimentaria a produção das indústrias de madeira. Rios foram poluídos pelo mercúrio dos garimpos, enquanto a violência e as doenças exterminavam os tolos ambiciosos, que enquanto sonhavam com a riqueza exterminavam uma parte da vida na Terra. Os oceanos estão servindo de depósitos para o lixo da sociedade moderna, quando não são atingidos por desastres ainda maiores, como o que assola a costa norte-americana com o rompimento de tubulações na plataforma de exploração de petróleo em águas profundas.

Não precisamos ir tão longe, meus ingênuos leitores, basta que nos lembremos da famosa Serra Pelada e dos danos ambientais que o garimpo provocou, antes de ser fechado. A periferia de Belo Horizonte assusta os mais desavisados com a degradação dos morros e os conseqüentes riscos de que se repita a tragédia que resultou em desgraças e mortes, quando uma barreira de rejeitos minerais se rompeu e desceu morro abaixo. E tudo em nome do dinheiro!

O dinheiro, que é o símbolo do ouro, e que deveria representar a riqueza de uma nação, serve como pretexto para que se destrua o nosso ambiente de vida na Terra, com a falsa alegação de que esse é o preço do progresso.

As mineradoras arrasaram as terras de diversas regiões da África e levaram à miséria o povo africano.

As empresas mineradoras, e nisso incluem-se as madeireiras e as petrolíferas, estão acabando com a vida na Terra, em nome do progresso e da riqueza da humanidade. Na prática, a humanidade está cada dia mais pobre e doente, para que uns poucos se aproveitem do material retirado da terra e se tornem ainda mais ricos e poderosos.

Os governantes em seus discursos enganosos, e eles mesmos enganados por suas ignorantes visões de progresso, iludem os povos pobres e humildes ao afirmarem que a felicidade somente será possível com o sacrifício da natureza. A massa crédula e submissa não consegue enxergar na natureza a divindade que procura nas igrejas e templos, e comete o maior dos seus pecados sendo omissa e conivente diante do kármico passivo ambiental.

No tempo das diligências, a marcha para o oeste norte-americano tinha um ideal, e a febre do ouro, com toda a sua violência, possuía algo de idealista e nobre. Os mineiros ingleses acreditavam que com o seu sacrifício as gerações futuras teriam mais conforto e saúde. Os bandeirantes procurando seus diamantes e iludidos pelas turmalinas entraram em choque com os índios, mas havia um pouco de nobreza naquela luta pelas riquezas da terra.

Hoje em dia, meus nobres leitores, não se pode mais desculpar a quem destrói a natureza, em nome do progresso e do futuro da sua gente. Os exploradores são criminosos e as autoridades passivas são coniventes e cúmplices do crime de lesa-humanidade.

A natureza pede um tempo para recuperar suas forças. O progresso crescente e ilimitado é irreal e impossível de continuar sendo perseguido, sem causar destruições e epidemias. O ar e a água estão poluindo-se a níveis alarmantes, enquanto tudo que se faz é prosseguir numa batalha inglória em busca da riqueza absoluta.


A natureza não possui condições de proporcionar toda a riqueza natural para alimentar a riqueza artificial de outra sociedade que pretenda viver com os mesmos luxo e desperdício da sociedade norte-americana. Os chineses com sua expansão econômica encontrarão, dentro em breve, os primeiros sinais dos seus limites, estabelecidos pelo modo de vida do povo americano. Estamos bem próximos daquela marca que determinará quem segue e quem fica, Estados Unidos ou China. O mais provável, porém, é que nenhum nem outro.

As reservas naturais se esgotarão, se a exploração das nossas riquezas minerais continuarem no mesmo ritmo. A poluição, talvez, seja a grande precursora desse colapso ambiental. As doenças antecedem a poluição, e as tragédias climáticas antecedem as doenças.

A escavação do solo em busca de riquezas. A perfuração do leito dos oceanos em busca de petróleo. A derrubada e o extermínio de florestas em busca do luxo na produção dos móveis para as classes ricas. Todas essas ações do homem têm um limite – a natureza. A saúde da natureza tem um limite– a sobrevivência da humanidade.

Seduzidos pelo ouro, o homem se torna um tolo. Na busca pela riqueza, o homem aciona o detonador da bomba que poderá exterminar o planeta. E vós, caros leitores, o que tendes feito para diminuir vosso consumo dessas ofertas supérfluas que são produzidas à custa da saúde do planeta?

Digamos NÃO aos móveis fabricados com madeira roubada de nossos santuários ecológicos.


Recusemos os produtos feitos com peles de animais ou com matéria-prima extraída de fontes ou áreas de preservação. Cuidemos de nossas águas e de nossas matas.

O ouro é muito belo, mas cuidado com o ouro do tolo.