Meus amorosos leitores, basta de falar de guerras e crises! Eu já não agüento mais receber tanta radiação atômica na tela do meu monitor. As balas e os mísseis da guerra na Líbia, qualquer dia me atingem, e eu nem tenho a quem reclamar. Há anos que judeus e palestinos brigam e se matam, e a ONU não sabe o que fazer para acabar com a luta.
Eu estive pensando em escolher um número para celebrar a paz no mundo. Pensei no número dois, que é o mais indicado para celebrar acordos e acalmar os ânimos dos mais aguerridos. Depois, pesei os prós e os contras, e concluí que a situação já saiu do controle de ações celebradas pelo número dois.
A minha idéia seguinte foi dedicar o meu espaço ao número três, falando da força da arte e da cultura para aproximar os povos. A beleza e a criatividade tocam fundo no coração da gente. Então, eu parei para refletir, e cheguei a conclusão que beleza é muito relativa, e cada povo tem o seu próprio padrão. Mais uma vez, fui obrigado a concluir que eu poderia estar correndo o risco de provocar uma batalha cultural, e a emenda sair pior que o soneto.
De repente, veio-me a lembrança o amoroso e casamenteiro número seis. Alguns poderiam ridicularizar minha escolha, numa época em que casamento virou quase palavrão e casar um ato de comprovada estupidez. Se isto não é a realidade dos fatos, não deixa de ser o que se apregoa nos filmes, livros e meios de comunicação.
Desta vez, porém, eu fui um pouco mais fundo na questão. Casar não é só acasalar, mas unir e compor casais. Desde a infância, buscamos o nosso par ideal. Eu não me refiro a sonhos românticos com príncipes encantados ou belas adormecidas. O ser humano precisa de companhia, ele tem de encontrar correspondência em todas as áreas por onde circula. Escola, amigos, esporte, música, trabalho e lazer pedem pares, aqueles que se identificarão com os nossos gostos e com as nossas preferências.
Pensem bem, atentos leitores, se eu busco alguém que se harmonize comigo, no que estou a fazer, ou somente a pensar e planejar, então, eu procuro quem possa casar suas idéias com as minhas. E em questões de casamentos, ninguém se compara com o número 6. Ele é amoroso, generoso, carinhoso e zeloso com aqueles, ou aquilo, a quem ama.
Diante dessa sábia conclusão, eu dei por encerrada a minha pesquisa. Agora, só era preciso que eu justificasse os diversos e tão genéricos casais, em cada qual das áreas que eu houvera mencionado.
Comecei pela escola, como poderia ter começado pela babá. Mas, usei a minha experiência de vida, quando babá ainda era sonho de consumo das mães liberadas, a surgir num futuro ainda relativamente distante.
O amor pela professora, aquela doce segunda mãe, que com paciência e dedicação nos ensinou as primeiras letras. Quem não sentiu a afinidade amorosa por uma professora, ou professor, que formava o par perfeito com a nossa criança insegura e ansiosa por conhecimentos? Nessa união reconhece-se a presença do número seis, de uma forma muito intensa, pois se existe uma profissão inspirada pelo número seis, esta é a de educadora e alfabetizadora de crianças. Concluí que havia alcançado um par perfeito, ou quase, da criança tímida, diante de uma cartilha cheia de letras, ao lado de uma professora paciente e sorridente, iniciando-a na literatura. O amor dos discípulos pela mestra, nos primeiros passos de uma jornada repleta de futuras uniões.
O passo seguinte me conduziu ao segundo casamento, quase sempre, também celebrado no convívio escolar. A união com o amigo do peito, aquele, ou aquela, colega que parece até nossa alma gêmea. Quem conseguiu escapar desse amor puro e inocente? Quem poderia passar pela infância sem ter amigos e confidentes da mesma idade, com as mesmas dúvidas e medos semelhantes? O casamento parece perfeito, e, em certos casos, torna-se eterno por toda a vida. Quantos casamentos por amizade resistem ao tempo, e celebram todas as bodas existentes, até que uma das partes fique viúva!
O número seis não se apega apenas a casamentos entre noivos, com festas e ritos religiosos, buquês e grinaldas, fraques e cartolas. Eu me permito generalizar os trajes, amáveis leitores, pois os ingleses e seus assemelhados ainda se dão ao luxo desses requintes e retoques no vestuário.
O número seis promove os casamentos românticos e amorosos, desde a infância até a mais extensa velhice. Ele não promove o amor ao corpo e a exaltação às formas, mas configura o sentimento que nos une a alguém, a alguma coisa, a algum lugar ou a algum fato. Amigos para sempre, casais celebrados pelo número seis no templo escolar, no salão do clube, no ginásio de esportes ou no palco de um teatro amador.
Os casamentos celebrados pelo número seis, meu ansioso leitor, prosseguem nos grupos musicais e nas companhias teatrais. A dupla musical perfeita, as vozes que se combinam desde a primeira nota. O casal de ator e atriz que faz a platéia chorar ou gargalhar, quando representam juntos. O número seis influencia no amor e também nas artes, especialmente na música.
Amor e paixão, união sincera e eterna, nos casamentos artísticos e nas atividades culturais. No teatro e no cinema, no palco ou na arena, no museu ou nas galerias, a celebração dos casamentos entre almas sensíveis e criativas, apegadas ao bom e o belo, e com muito amor para dar.
Ah, estás surpreso, meu refinado e culto leitor, não esperavas assistir tantos casamentos inusitados, como estes que o meu número seis vai celebrando, à medida que vou mudando de ambientes. Da escola para o clube, e deste para os palcos e para os museus, o amor casamenteiro do número seis não dá trégua, unindo seres que se atraem pela compatibilidade de gostos e ideais.
E assim se repete em todas as áreas, com a união pelo amor. Se não fossem o ciúme e a mania de querer mandar nos entes queridos, eu até vos diria que eles se casaram, se amaram e foram felizes para sempre. Mas, sinto muito frustrar-vos, um pouco antes do THE END.
O amor não é a certeza da união perfeita, nem eterna. Mas, é o prazer de encontrar um parceiro, ou parceira, com quem tenhamos afinidades, tais e tamanhas, que vale a pena enquanto durar.