sábado, 7 de abril de 2012

TEIA AMBIENTAL - É ESTE O PROGRESSO QUE CONTA PARA O PIB?

Meus assíduos leitores da Teia Ambiental, mais uma vez, eu os coloco para refletir sobre o progresso, segundo a visão da economia moderna. O progresso de uma nação é medido pelo seu PIB (Produto Interno Bruto), que leva em consideração o conjunto de bens e serviços produzidos pelo país.

O PIB não leva em consideração fatores ambientais ou sentimentais que fazem uma população sadia e feliz. Lucros a qualquer preço, riquezas materiais e contínua expansão do capital em investimentos industriais e poluidores são os carros-chefes das nações mais ricas do mundo.

Pensando nessas desgraças que essa política expansionista vem causando à natureza e às populações, principalmente as mais pobres, deparei-me com a reportagem sobre a cidade de Paulínia, onde a Shell e a Basf provocaram tamanha devastação ambiental que 59 pessoas já morreram por conta do envenenamento do ar e da água por agentes químicos.

A batalha judicial do Ministério Público contra essas duas empresas já se arrasta há mais de dez anos, num processo que envolve 59 mortes, duas das quais no mês passado, todas decorrentes de contaminação por substâncias cancerígenas nos locais de trabalho, na cidade de Paulínia, no interior do estado de São Paulo, onde funcionou a fábrica de agrotóxicos das duas empresas, entre 1977 e 2002.

O parecer técnico encomendado pela Promotoria de Justiça concluiu que houve negligência, imperícia e imprudência da Shell e das empresas que a sucederam, na contaminação da área da fábrica e dos terrenos vizinhos.

Em sentença de agosto de 2010, a Justiça do Trabalho da cidade de Paulínia determinou que, a Shell e a Basf venham a custear totalmente as despesas médicas, laboratoriais e hospitalares dos ex-funcionários e de seus parentes, além de todos que direta ou indiretamente prestaram serviços à fábrica. As empresas também foram multadas por danos à coletividade e indenização a cada um dos cerca de 600 ex-trabalhadores e seus filhos.

Como é de praxe, as empresas recorreram e derrubaram as multas e agora estão recorrendo ao Tribunal Superior do Trabalho contra o pagamento das despesas médicas. Talvez, elas estejam tentando comprovar que os empregados foram os únicos culpados por se deixarem contaminar por inocentes venenos, por negligência ou fraqueza. Faça-me o favor!

E dizer que tudo foi feito em nome do progresso econômico do país, quando em 1977 a fábrica de pesticidas começou a funcionar com 191 empregados, apesar dos protestos contra a sua instalação naquele local. O local não foi escolhido com base em estudos e aprovação de licença ambiental, mas pela configuração do terreno, que visto de cima tem um desenho semelhante à concha que simboliza a Shell.

Em 1992, a Shell passou o abacaxi adiante, na certa como parte do processo de despistamento e provocação de conflitos de interesse, que sempre confundem a Justiça. A nova vilã passou a ser a Cyanamid que, em 2000, prosseguindo na mesma política de transferir responsabilidades repassou o abacaxi para a Basf.

O lema da Shell enganou a ingênua população, que acreditou piamente na frase que era apresentada como um símbolo da seriedade da empresa “Shell, você conhece, você confia”.

Uma chaminé despejava fumaça poluente nas portas das casas da população simples que habitava a região, com seus membros trabalhando na fábrica, confiantes de que estariam protegidos.

Esta confiança logo mostrou o seu preço, com os primeiros casos de contaminação por Aldrin e outros agentes químicos produzidos pela Shell. Crianças nasciam com paralisia cerebral, outras adquiriam doenças que afetavam o baço, que é um dos sintomas da contaminação.

A situação se agravou a tal ponto que o local foi interditado em 2002, mas nem por isso deixou de representar ameaça para a população, pois ainda se registram altos índices de contaminação no local, que não possui qualquer aviso do perigo que representa circular na área.

Este é mais um exemplo de como o crescimento do PIB influi na vida da população de um país. O governo oferece áreas, isenta de impostos, oferece empregos, e daí a algum tempo, a população sofre com a poluição ambiental, e as mortes só servem para comprovar o sucesso do investimento da empresa, com sua produção em larga escala e a custos baixos pelos mínimos investimentos e a máxima insensibilidade no trato com a saúde e a vida dos empregados.

Quando se vai verificar o crescimento do PIB, encontra-se a produção de fábricas como essas e outras semelhantes que melhoram os índices de crescimento de uma nação, à custa da degradação ambiental e da morte de sua população trabalhadora. Poupem-me, senhores economistas!

O economista e prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, defendeu recentemente, na sede da ONU, a imposição de sanções comerciais aos norte-americanos, pelo que ele considera a culpa por estar onerando o restante do mundo, com seu posicionamento contrário à aprovação de dispositivos de proteção do planeta contra a degradação ambiental.

Meus ingênuos leitores, falar de Estados Unidos da América do Norte, de Shell, Cyanamid e Basf é tudo farinha do mesmo saco, pois mesmo as empresas que não tenham sua sede naquele país seguem a cartilha dos grandes conglomerados industriais e financeiros que comandam a economia mundial.

O economista e prêmio Nobel participou de um “Encontro sobre bem-estar e felicidade”, promovido pelo governo do Butão, e que discutiu a busca de um padrão holístico para medir o desenvolvimento de um país.

A ONU aprovou em julho de 2011 uma resolução em que afirma que o PIB não é suficiente para medir o bem-estar de uma população. O Butão já havia se adiantado, e desde 1972 criara o índice FIB, que mede a Felicidade Interna Bruta.

Meu rigoroso leitor, tu podes estar pensando que isso é coisa de um país sem expressão, e só para impressionar. Mas, os resultados do Butão têm sido tão expressivos que chamam a atenção do mundo, e fez com que a ONU parasse para debater o assunto e aprovasse uma resolução recomendando que os países estudem um padrão, semelhante ao do Butão.

Será que os destruidores da natureza e assassinos de crianças e de populações miseráveis e ignorantes vão permitir a avaliação do progresso de uma nação por outros métodos que não os deles? Será que os Estados Unidos da América vão aderir ao FIB, que contempla não apenas os norte-americanos como tem ocorrido até agora, mas os povos do mundo inteiro?

E as empresas que degradam a natureza e dizimam com seus agentes químicos povos pobres e ingênuos irão mudar suas políticas sem resistência? De uma coisa nós sabemos, e agora a ONU também já sabe, esse tal de PIB pode indicar o que for menos o progresso de uma nação.

E, quando voltamos os nossos olhos para o que está acontecendo no planeta, e bem mais próximo, ali na cidade de Paulínia, chegamos a uma conclusão ainda mais drástica. O PIB não só é um falso indicador do progresso, mas, pior do que tudo, ele mata.
























































6 comentários:

  1. Caro amigo Gilberto
    Passando para ver o seu progresso... e desejar-lhe uma Feliz Páscoa!!!
    Abraços fraternos ecológicos e pascais

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  2. Grato pela visita, Orvalho:
    Não há progresso, qualquer que ele seja, se não for acompanhado do progresso espiritual. E isto fica bem claro na postagem da Teia.
    Um abraço ecológico e espiritualizado.
    Gilberto.

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  3. É Sr. Gilberto,infelizmente as pessoas não querem nem tomar conhecimento das coisas tão
    perigosas que nos circunda,defender vidas e tentar melhorara-las é missão para poucos, num
    país como nosso.Não podemos deixar nunca de falar e incomodar,e nunca desistir.Abraços.

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  4. Minha assídua leitora, Andréa:
    Somente quando a desgraça bate na sua porta, é que o povo sai da sua acomodação para berrar por seus direitos.
    E os deveres?
    Um abraço ecológico.
    Gilberto.

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  5. Querido Mestre,
    seu post me recordou um documentário que assisti sobre uma cidade fantásma na China.

    Na ânsia de aumentar o PIB, o governo chinês concedeu licenças de construção impensadas, os empreiteiros construiram sem ter em conta a necessidade de habitação versus custo da habitação. Assim se construiu uma cidade com apartamentos de luxo, em nome do progresso, e agora a cidade permanece deserta apesar dos apartamentos estarem finalizados. Simplesmente não há dinheiro para comprar, apesar de a China ter excesso de população (pobres).
    Enfim...falar o quê?!

    Só consegui postar hoje para a Teia. O final-de-semana pascoal, encurtou não sei como. Fiquei sem tempo para nada. Só hoje estou conseguindo recuperar.
    Abraços.
    Rute

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  6. Minha querida Rute:
    O homem persegue insanamente os altos índices do PIB, que se mostram os maiores causadores dessa devastação do planeta.
    Muitas vezes, chegam a imaginar que suas teorias podem alterar o fluxo natural da evolução. Constroem torres de petróleo, para poder gerar energias, e poluem os oceanos.
    Erguem torres residenciais, que ficam vazias, enquanto os pobres permanecem sem teto.
    Para aumentar a produção, usam agrotóxicos, e com isso aumentam as doenças e as mortes no campo.
    A Teia é um recanto de encontro daqueles que se sentem indignados com os desmandos praticados em nome de um falso progresso. Lamentável!

    Abraços ecológicos.
    Gilberto.

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