domingo, 4 de novembro de 2012

QUE ASSIM SEJA - CAPÍTULO IV

Meus assíduos leitores:
Deixo-vos com o último capítulo deste curto conto.
Na semana vindoura, teremos um outro conto, enquanto continuamos aguardando a nova história, a ser publicada a partir de janeiro, intitulada MEMÓRIAS DE UM PROFETA.
Espero que gostem deste epílogo que estaremos publicando a seguir.
Abraços a todos.
Gilberto.



                                                 CAPÍTULO IV
            Lídia terminou a sua fala, observando o rosto de Roque, que não contraía um músculo sequer. Ela não se conteve, e tocou com os seus lábios no dele. Ele sentiu uma reação incontrolável, desejou-a naquele momento, como a desejou quando a conhecera ainda jovem, num corpo tão atraente e sedutor quanto o corpo de Lívia. A reação instintiva de Roque foi recuar para não tocá-la. Mas, ela se aproximou dele e, daí em diante, nada mais poderia impedir aquele desfecho amoroso. Amaram-se, como se amavam, quando ela era viva. O corpo de Lívia serviu apenas como instrumento para a execução daquela mesma antiga sinfonia, que era tocada no corpo de Lídia.
               Os derradeiros suspiros de prazer vieram trazer a derradeira revelação, deixada para o final. Aquele era o centésimo dia, do prazo que recebeu para estender a sua permanência na terra.
            Roque não se conformou, abraçou-a, e disse que não a deixaria partir. Ela não podia ficar, e ele não queria separar-se dela nunca mais.
            A manhã seguinte encontrou-os com os rostos colados, os corpos abraçados e as mãos se tocando, numa derradeira carícia de amor.
            Os pais de Lívia olhavam indignados para os dois amantes. Acusações e ofensas atingiam a reputação de Roque, atribuindo-lhe toda sorte de desvios e suspeitas. A conclusão final foi que a pobre menina teria sido seduzida por aquele monstro, e convencida a participar de um pacto de morte. Todos lamentavam o trágico fim de uma jovem tão bonita e cheia de vida. Mas, poucos tinham algo a dizer sobre o velho professor. Era um esquisitão, que ficou ainda pior com a morte da mulher.
            Os vizinhos cobravam dos pais da moça, a responsabilidade por permitir que a filha ficasse trancada o dia todo de conversa fiada com o viúvo. Os pais se defendiam, alegando que era impossível segurar uma jovem de 15 anos, e que nessa idade já não se obedece mais às ordens dos pais.
            A discussão já ia tomando proporções maiores, quando uma forte rajada de vento deu prenúncios de uma tempestade daquelas que não poupam, nem os telhados, do granizo, nem os ouvidos, dos trovões.
            Os primeiros relâmpagos, seguidos de pedras de gelo, espantaram os mexericos, e deixaram os dois corpos abraçados, sob a vigilância de um soldado indiferente, que deveria zelar para que não se tocasse em nada, antes da perícia chegar.
            Os peritos, por mais que investigassem, jamais encontrariam a verdadeira causa da morte daquele casal apaixonado. As verdades humanas não passam de tristes mentiras, quando tentam desvendar os segredos do amor. Os homens vêem maldade, quando as tradições são negadas. E, nessas horas, choram pelos mortos, quando são os vivos que merecem os seus lamentos. E acabam por se contentar em atribuir o bem e o mal, a um Deus distante e a um Diabo sempre presente. Agindo assim, condenam os males que vêm para bem, e exaltam o bem que esconde o mal. Julgando e condenando inocentes, cada um satisfaz a sua mediocridade, em nome de Deus.
            Roque não tinha como se defender dos ataques à sua honra. Nem Lídia tinha como defendê-lo e nem Lívia como inocentá-lo.
            Quem se importa em se defender da maldade humana, quando ascende a outro plano, sem pecados, nem castigos?
            Aqueles que tanto insistem em comprovar verdades, quase sempre recaem no mesmo erro, de acreditar numa verdade única a qual todos têm de se submeter. Essas verdades inventadas pelo homem não passam de afirmativas inúteis, que cada qual busca comprovar do seu jeito.
O melhor mesmo, caro leitor, é cada qual acreditar na sua verdade e respeitar a dos outros. Queres prova do que te contei? Eu não prometi provas, apenas me comprometi a te contar uma história.
            Verdade ou mentira? Decide por ti, e a conclusão a que chegares, guarda para ti, sem tentar impingi-la aos outros. E que assim seja.
                                                           FIM    

2 comentários:

  1. Acho que determinadas coisas,nós podemos sentir e nem todos podem compeender.Quando algo acontece que seja dos outros, nossa primeira reação é julgar.
    Abraços.

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  2. Pois é, minha querida Andréa, quem somos nós para julgar sentimentos alheios! E, ainda mais, quando os fatos acontecem além da imaginação.

    Um abraço.
    Gilberto.

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