Aproveitando
o texto utilizado no meu curso de Mestrado da Numerologia da Alma, e
seguindo sugestão de um dos dedicados estudiosos do curso, estou
reproduzindo com algumas alterações este pequeno ensaio sobre karma
e darma.
A
realidade é que o termo karma, ainda que mais conhecido do que
darma, não é fácil de ser compreendido, por quem não se dedica
a um estudo mais aprofundado da matéria.
Tenho
procurado tratar, desse tema, neste espaço aberto, mas sempre
encontro uma certa resistência para fazer com que os leitores
entendam perfeitamente onde a sabedoria oculta quer chegar, com a
troca do tradicional e religioso pecado pelo místico e espiritual
karma.
Desta
vez, usarei metáforas! Aproveitarei a trama, aparentemente ingênua
e romântica, do filme Feitiço do Tempo, que
pode ser encontrado no You Tube, no link
https://www.youtube.com/watch?v=7LECcNXJ5GQ
para
simbolizar a transformação de karma em darma. A analogia será de
tal forma clara e evidente que não exigirá muito esforço dos
leitores.
Então vamos a ela!
O
tempo para! A cada manhã o dia anterior se repete! Ninguém percebe
o que está acontecendo, a não ser o personagem central,
representado de forma magnífica por Bill Murray. O dia amanhece, ele
olha pela janela e percebe que tudo se repetirá como na véspera.
Esta
repetição, no início, é cansativa e irritante, levando-o a
reações instintivas que denunciam a sua maneira egoísta e
insensível para lidar com seus semelhantes. Ele se faz debochado e
cínico no trato com pessoas que insistem em repetir as mesmas
atitudes diárias.
Dentro
deste contexto, o filme só nos mostra quem ele realmente é, como
consequência do estágio em que sua alma se encontra, o que é
revelado pelas atitudes da personalidade. Ele é uma criatura ruim,
mal educado e grosseiro, ele só se ocupa em atingir e menosprezar os
outros.
Neste
ponto, eu convido os leitores a se abstraírem do que seja a parte
realista e lógica da trama, e comparar os fatos repetitivos de uma
única vida com as probabilidades de estarmos diante de sucessivas
vidas, sendo cada dia uma nova encarnação.
Phil
Connors se torna não apenas a personalidade encarnada, mas a própria
alma que reencarna a cada dia seguinte para superar seus karmas e
mudar sua consciência espiritual. Dia após dia, ou vida após vida,
aquela alma aprende e evolui com sucessivos fracassos. Presa a uma
cidade, por um motivo aparentemente fútil, ela não consegue se
libertar daquelas mesmices diárias.
A
insistência em repetir os mesmos erros da véspera provoca,
inicialmente, uma irritação que o leva a se aproveitar de uma
situação previsível para debochar e ofender as pessoas. Seus
colegas de reportagem são desprezados e ridicularizados. Rita é
vista como uma profissional medíocre, enquanto o cinegrafista é
tratado como uma simples ferramenta da reportagem, sem valor algum
como figura humana.
A
alma insiste em repetir, vida após vida, os mesmos erros, ela se
diverte com as suas maldades. Ela se julga muito esperta e poderosa
por dominar o tempo, e se aproveita desta vantagem para botar pra
fora toda a cruel frustração alimentada por toda a sua existência,
ou existências, se continuarmos a conceituar cada dia como uma
sucessão de encarnações.
Chamo
a atenção dos leitores para se fixarem no passar do tempo entre
cada dia mostrado pelas imagens, já que ninguém consegue, por
exemplo, aprender, de um dia para outro, a tocar piano com a perícia
demonstrada e elogiada pela própria professora. Ela não poderia ter
reagido com aquela naturalidade se não soubesse que o tempo de
estudo foi bem maior do que um dia apenas, ou mesmo alguns dias.
Da
mesma forma, a população da cidade não poderia reconhecê-lo como
um benfeitor, de um a dia para outro, ou mesmo semanas e meses.
Então, a fábula contada é uma histórica kármica de uma alma, que
é aprisionada na matéria, e obrigada a se libertar pelo amor.
O
mito do tempo que aprisiona e do espaço que limita as ações fica
facilmente percebido, quando mudamos o foco central da história,
expandindo a sucessão de dias para uma kármica sucessão de vidas.
Não se trata mais de um dia que se repete sucessivamente, mas de
existências que se sucedem numa busca de superação dos karmas e
expansão da consciência amorosa da alma.
Phil
Connors deixa de ser um repórter para se tornar um homem generoso
que ajuda senhoras a trocar o pneu do carro, resgata a autoestima de
um vendedor de apólices, dá mostras de se preocupar com o casal
jovem que se confunde na relação, em ajudar o senhor que se sufoca
com a comida, em ser gentil no trato com as pessoas, em usar a sua
veia artística para alegrar o ambiente dançante do salão de
festas.
O
dia da marmota poderia ser visto como o destino de Phil e a missão
seria o resgate kármico de uma alma amarga, insensível e egoísta.
Se ele não fosse para a cidade da marmota, não passaria por todas
as experiências e desafios que foi obrigado a vivenciar.
Vida
após vida, ou, quem preferir, dia após dia, Phil Connors foi pondo
pra fora todo o seu mau humor, a sua grosseria e a insatisfação com
o mundo. Aprendeu com a frustração de se sentir prisioneiro de um
mundo vazio e sem perspectivas. A cada manhã, ou renascimento, ele
se deparava com a frieza do ambiente, e com as mesmas pessoas
atravessando o seu caminho, incomodando-o e provocando a sua
irritação.
A
permanente repetição dos mesmos fatos ou situações, sem que suas
reações trouxessem qualquer benefício para sua satisfação
pessoal ou evolução espiritual, acabaram por obrigar aquela alma a
mudar de comportamento. E, diante dos fracassos dos dias anteriores,
ou das vidas passadas, a alma de Phil se deu conta que era preciso
mudar. Para pior seria quase impossível, então ela decide
experimentar mudanças, deixar de ser aquela figura intratável que
causava repulsa a quem dele se aproximava, para ser uma pessoa afável
e gentil.
Os
olhos de Rita passaram a ter um brilho diferente, quando olhavam para
o novo Phil. Ela, tal qual um Anjo de Guarda ou uma Agente do
Destino, sorria de modo benevolente para aquela alma que superava os
antigos karmas e assumia uma postura espiritual digna da atração
que ele sempre exerceu sobre ela e, finalmente, do amor que ela passa
a desenvolver por ele.
O
caminho kármico estava traçado, tendo sua origem na véspera do dia
da marmota, e o seu destino na cidade de Punxsutawney, onde a missão
teria de ser cumprida. Naquela cidadezinha miúda, habitada por
pessoas ingênuas que valorizavam as predições de dois bichinhos
tontinhos, Phil teria de aprender com a vida a queimar seus karmas.
Qual
a semelhança que se pode extrair dessa fábula com o processo de
evolução da alma humana, senão identificando cada má atitude de
Phil com o processo natural que antecede o despertar da consciência?
Como não comparar os dias repetidos com as vidas repetidas?
Como
nos consola saber que, mesmo que tenhamos sido um Phil Connors mal
humorado e grosseirão noutras vidas, podemos nos transformar, pela
ordem natural das coisas, e sob a regência da evolução espiritual
cósmica, um ser amoroso, gentil e caridoso!
Eu
vi a humanidade inteira com a cara do Phil Connors. Eu percebi que
muitos olham para essa humanidade com o mesmo olhar de surpresa,
indignação e resignação de Rita, quando ela se decepciona com as
atitudes dele, num convívio mais próximo. A humanidade parece digna
de admiração, mas, o convívio próximo põe, aos poucos, tudo a
perder.
Serão
necessárias muitas encarnações, com fracassos e sofrimentos, para
que ocorram mudanças nesta ou naquela alma, que poderão vir a
influenciar nas pequenas transformações na vida da humanidade. Se o
processo é lento, pelo menos o filme nos deu uma ideia do quanto ele
é plausível, ainda que a demora possa nos dar a impressão do
contrário.
Considerei
o filme, o exemplo mais simbólico do que seja a transição kármica
de uma alma rude para uma alma refinada e polida espiritualmente.
Tudo é possível, e isto é que nos proporciona a vontade de ir em
frente e jamais desistir.
Phil
Connors parecia não ter jeito, mas sua alma era apenas um diamante
sem lapidação. A vida se encarregou de lapidá-la, e surgiu uma
pedra brilhante que todos desejavam possuir. O valor dele cresceu, e
foi pago por quem antes o julgara um falso brilhante.
Eu
considero este filme um ícone da reencarnação vista por olhos
simplórios de quem não precisa de muito estudo para aceitá-la e
considerá-la a explicação mais coerente para a vida. Erros,
insistências em más atitudes, desafios à vida e à morte.
Irresponsabilidades no trato com as pessoas, indiferença com o
sofrimento alheio e desprezo pela própria vida. Tudo isto pode ser
observado no dia a dia, e serve de reflexão para o que se possa
esperar pelo futuro da humanidade.
O
filme dá a resposta. Demora, mas a mudança acontece. O que acham?
Alguns
poderão responder que tudo aconteceu numa única vida. A esses, eu
peço que analisem as mudanças, minuciosamente, e perceberão que
algumas daquelas mudanças estavam ocorrendo de um dia para o outro,
comprovando a nítida improbabilidade lógica.
No
meu modo de entender, o filme é uma fábula kármica, ou, quem sabe,
um mito da transformação do karma em darma. Se assim não fosse,
haveria pouca lógica em certas mudanças de posturas, que exigiriam
tempo, muito tempo. Bem, deixando de lado a crítica cinematográfica,
foi assim que eu interpretei a mensagem contida no roteiro
inteligente e místico do filme. Cabe, a cada leitor, tirar as suas
próprias conclusões.