sábado, 7 de maio de 2016

TEIA AMBIENTAL - A NATUREZA NÃO ADMITE IMPEACHMENT




Meus caros leitores:
Quem pensou que eu havia desistido de comparecer, a cada dia 7, com um texto em defesa da natureza, enganou-se. Acontece que, eu, como a natureza, precisamos de um tempo de trégua, para sobreviver a esse ataque permanente do homem contra o planeta. Por isto, no 7 de abril, eu fui espairecer em Tiradentes, onde a história está viva nas ruas, e o verbo preservar é conjugado a todo instante.

Ao retornar com o que me deparo? Como se dizia na época de guerra “sem novidades no fronte”. Nada que tem surgido, nem mesmo o recente e repetitivo compromisso das nações para reduzir a destruição ambiental pode ser motivo de comemoração. Essas reuniões se sucedem de tempos em tempos, quando muitas previsões fazem parte do documento final, umas antecipando tragédias e outras prometendo mudanças.

As tragédias continuam acontecendo, mas as mudanças, quando ocorrem, são mínimas transformações estratégicas ou simples jogo de palavras, que ficam no papel e não sensibilizam a alma humana. O dinheiro é o fator prioritário das ações e decisões dos países ricos. Enquanto isto, os países pobres não fogem à regra geral, e, na alegação de que precisam crescer, embarcam nas mesmas ações predatórias dos ricos.

O resultado a cada ano é o surgimento de novas catástrofes ambientais, anunciadas, umas, e confirmadas, outras. Querem um exemplo prático? O vazamento da barragem da Samarco, em Mariana, aqui pertinho da minha querida, São Lourenço. E dentro de uma área de preservação histórica, que inclui a vizinha Ouro Preto, um patrimônio da humanidade.

O que faz a humanidade jogar com a saúde da natureza e a vida humana, sem o menor escrúpulo de usar como defesa de seus atos predatórios, o progresso econômico da região! Que progresso poderemos esperar, agora, daquela região, após o despejo de uma lama envenenada no rio Doce, e do sufocamento da terra, em que, talvez, nunca mais possa crescer nada que sirva para alimentar os lavradores da região.

A punição para o crime é a multa. Estabeleceu-se uma vultosa multa, que, segundo o histórico jurídico, não será paga. Os recursos se sucederão, as instâncias serão percorridas, até que, no esquecimento do fato e nos meandros da lei, sob a manipulação de escritórios de advocacia especializados em forjar mentiras, tudo ficará para trás.

O rio, pouco a pouco, no passar das águas e do tempo, voltará a clarear, as novas gerações não se lembrarão das águas turvas de um passado, que serão contadas como lendas de uma época em que uma tragédia imprevisível destruiu muitos sonhos e esperanças, mas que, não impediu o progresso econômico de uma região rica em minério.

A existência de riqueza mineral no subsolo de uma região pode transformar a celebração do achado na desertificação lamentada num distante amanhã. O dinheiro é que regula a vida do povo que habita a região, e nem a justiça e nem os governos são capazes de garantir a segurança e os direitos de propriedade dos cidadãos.

A riqueza é o céu das grandes mineradoras, que esburacam os solos e acumulam seus detritos em barreiras intransponíveis, até o dia em que uma ocorrência imprevista, repete as mesmas antigas tragédias. Acontece que, nessas horas, percebe-se que para o ganancioso e criminoso, o céu não é o limite, mas, apenas, um degrau para seguir adiante em busca do lucro infinito.

As mortes são choradas e consoladas com flores e sepulturas para esconder os corpos. As perdas materiais das grandes empresas são recuperadas, em curto espaço de tempo, menos as da população atingida que, na justiça, precisa entrar na fila e pacientemente aguardar a esmola que vai indenizar as perdas materiais, já que as humanas são debitadas a fundo perdido.

A humanidade não cansa de esperar dias melhores. A natureza, porém, é implacável com os crimes ambientais, e cansa muito facilmente. O dinheiro compra quase tudo, mas não pode comprar a água, quando todas as reservas potáveis estiverem poluídas ou, simplesmente, desaparecerem. E sem a água não há vida.

Nunca é demais relembrar a famosa carta do cacique Seattle, e que se tornou um ícone da defesa ambiental. A terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. Continua a poluir a terra, e, um dia, despertarás debaixo dos teus próprios dejetos.

Será que alguém ainda acredita que essas sejam meras palavras de efeito? A marcha do tempo é inexorável, e, quando se trata de crimes contra a natureza, o tempo acelera e, de repente, não há mais nada a fazer.

Continuem assinando tratados, imaginando que estão enganando a todos! Mas, tolos são os que julgam enganar a força da natureza. Dias virão em que não serão palavras no papel que mudarão a conduta humana, mas a proximidade do fim, chegando na soleira de nossas portas.

A solução é mudar ou mudar. Se ficar como está, pouco, ou quase nada, vai restar. E, quando esse tempo chegar, nenhum golpe poderá dar o poder a quem não merece, a Natureza não admite impeachment.